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A importância do lugar de fala e representação social, por Dani Marques

Para que possamos explicar o que é lugar de fala, faz-se necessário empreender uma tarefa de autorreflexão sobre nossa própria localização social. Quando levo em conta minha raça, classe e gênero, identifico-me como mulher, negra e periférica. Esse conjunto de características posiciona-me no meu lugar de fala, no qual posso falar com propriedade das minhas vivências com a base que me é oferecida por esse ponto construído subjetivamente. Tal reconhecimento requer leitura, escuta, não acontece da noite pro dia. Demanda tempo e observação, mas se faz necessário.

A história de mundo que nos é mostrada foi contada pelos olhos do observador, que aqui vamos chamar de padrão, homem branco cis-hetero. A esse homem, representante mor do patriarcado, com a permissão do patriarcado, foi dado direito de ignorar vozes, silenciando grupos, nos passando a ideia de que havia apenas um lado da história: a que era contada por ele. Vejamos os autores que lemos na educação formal, os protagonistas de filmes e novelas, os livros de literatura. Todos, em sua grande parcela, foram e são protagonizados por esse perfil considerado universal. Pouco nos é falado a respeito da versão dos povos africanos que foram trazidos para cá para serem escravizados; não se sabe o que povos indígenas sofreram com o processo de colonização. Sem falar ainda no silenciamento das mulheres e dos LGBTTQIA+.

O lugar de fala reivindica pelo direito de se ter voz, aqui num aspecto de existência, de representatividade. Não a voz individual, mas a voz do coletivo. O homem branco não pode determinar o que negros querem, não pode falar da vivência de um homem ou mulher negra, não pode ensinar a um negro o que é racismo. Apenas a pessoa negra, que passa por situações racistas, pode de fato falar da sua experiência.

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Contudo, o lugar de fala precisa do lugar de escuta. Sei que colocaram em nossas cabeças que tempo é dinheiro, que devemos trabalhar e estarmos disponíveis 24/7, mas o lugar de fala implica no lugar de escuta dócil, no diálogo. Não podemos cair na falácia do “mimimi”, que nada mais é do que um meio de desmerecer a fala dos oprimidos.

Mas você deve estar se perguntando: mas só os grupos oprimidos têm direito ao lugar de fala? Não! Todos possuem seu lugar de fala. Deve-se reconhecer o seu lugar, reconhecer seus privilégios e quando não for o seu lugar de fala, agir como coadjuvante nas causas das pessoas oprimidas. Por exemplo, pessoas brancas, ao reconhecerem seus privilégios, podem ajudar na luta contra racismo, heterossexuais podem lutar contra a homofobia, transfobia. Homens podem ser coadjuvantes na causa feminista, quando lutam contra o machismo. O que não podemos é sermos omissos, usarmos a desculpa de que não pertencermos a certos grupos para não nos manifestarmos e ficarmos calados diante das opressões.

Além disso, descolonizar olhos e ouvidos, pois ainda temos uma dívida pendente com os grupos que foram oprimidos durante a colonização. Buscar reconhece-los e sermos aliados na sua luta por direitos é parte da retratação histórica que temos por obrigação de fazer. Procurar ler mulheres negras, autores indígenas, literatura LGBTTQIA+, consumir a produção artística, acadêmica, cultural, entre outras coisas produzido pelos mesmos. A partir daí se desbrava, passa-se a conhecer a história que nos foi omitida, aquela que não foi contada.  Novas representações sociais nascem a partir do momento que damos visibilidades aos grupos que sempre foram minoria no poder. Isso tudo requer um estudo, busca, sair da zona de conforto, pois a mídia de massa reproduz o discurso de hegemonia branca heteronormativa e não faz questão de dar voz ao grupos oprimidos.

Além da descolonização, tratar questões referentes à politica é outra forma de conquistar representatividade. Eleger mulheres, negros, indígenas e pessoas LGBTQ+ em cargos é dar voz para as pautas das minorias, pois enquanto continuarmos elegendo pessoas com o padrão universal, o homem branco cis-hetero, muitas pautas que abrangem as minorias ficarão esquecidas e esses grupos desamparados.

Por fim, devemos nos conscientizar que somos responsáveis uns pelos outros e que reconhecer nossos privilégios pode ajudar a levar e elevar a voz daqueles que ainda não conseguiram seu lugar de fala.

 

Dani Marques

 

Escritora e idealizadora do fanzine “Desembucha, mulher” (2018).

Facebook.com/daniiiimarques

Desembuchamulher.wordpress.com/

Mais um texto clichê sobre maternidade

 

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