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Nossas redes
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Filó pros íntimos, para o resto Filomena, por Alisson Carvalho

Um dia, enquanto ciscava, Filomena viu-se no reflexo da água. Percebeu-se pata, por isso assustou-se. Quis tocar no próprio rosto e deu-se conta de que não tinha mãos, desesperou-se e deu três passos para trás: passado, presente e futuro entrelaçaram-se.

Suas penas arquearam, um estranho som ecoou pelo espaço. “Quede as patas? Quede os patos?” Quaquaqualhou pelo terreiro inóspito, mas ninguém escutou seu grasnar preocupado. Enxergou-se no reflexo da lua, estava meio humana e toda nua.

Caiu na lama cristalina afundando sem conseguir nadar. Seus pés perderam a membrana nadadora e lhe faltou o ar. O líquido entrou nos seus pulmões, entretanto Filomena jamais iria se entregar. Tentou e tentou, perdeu as forças e mergulhou. Não nadou, não se afogou.

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Viu serpentes aquáticas surgirem nas trevas e tentou das mordidas se esquivar. Só de uma não conseguiu escapar, daquela que mordeu a sua barriga violentamente até acontecer uma estranha fusão e Filomena tornar-se-ia parte daquele carnívoro cordão.

Não tinha mais pena, não tinha mais pele, era um minúsculo ponto alimentado pelo estranho verme. Ao seu redor surgiu um invólucro e gradativamente o cálcio formou uma parede de preces. Filomena estava presa, sentiu-se lesada pelo tempo. Comprimida dentro da prisão oval viu as sombras de um mundo platônico, surreal. Respirou fundo e decidiu esperar, escutou as oitenta badaladas do Sino da Paz lamentar.

Com o susto dos gritos, com os tiros, a pata viu seu ovo trincar. Empurrou com força aquela casca até ver os fragmentos de um ano inteiro se dilacerar. Oitenta badaladas por engano, oitenta por cento do seu corpo transformou-se em pranto. Ela viu uma porta e quis passar. Imediatamente deixou de lado as sombras da caverna, tocou pela primeira vez os seus pés no chão da rua, pois sentiu-se crua e conseguiu voar.

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