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A carta suicida do ator Flávio Migliaccio e por que não se deve divulgá-la, por Alex Sampaio Nunes
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A carta suicida do ator Flávio Migliaccio e por que não se deve divulgá-la, por Alex Sampaio Nunes

No último dia 04 de maio (2020), o ator Flávio Migliaccio foi encontrado morto e um portal de notícias divulgou fotos de uma carta que teria sido escrita por ele. Desde então, a carta vem sendo compartilhada massivamente nas redes sociais. Por que não se deve divulgar cartas suicidas?

Não existe qualquer proibição de noticiar casos de suicídio. Nas democracias ocidentais a liberdade de expressão é um direito fundamental. No entanto, existe a maneira adequada de noticiar esses casos.  

No ano de 2000, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou o documento “PREVENÇÃO DO SUICÍDIO: UM MANUAL PARA PROFISSIONAIS DA MÍDIA”, que traz uma série de recomendações (e não “imposições”, pois prevalece a liberdade de expressão) destinadas aos profissionais da mídia para informar a população sobre casos de suicídio. 

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Segundo o documento da OMS, há “um aumento nos suicídios até 10 dias após a TV noticiar algum caso de suicídio. Assim como na mídia impressa, histórias altamente veiculadas, que aparecem em múltiplos programas e em múltiplos canais, parecem ser as de maior impacto – maior ainda se elas envolvem celebridades”. Ou seja, a OMS deixou claro o aumento de suicídios nos primeiros dias após a ampla divulgação – inadequada, diga-se de passagem, pois os estudos são anteriores às recomendações – de um suicídio, especialmente quando se trata de uma celebridade, que é o caso do ator Flávio Migliaccio. Deve-se, ainda, levar em consideração que o manual da OMS foi escrito há 20 anos, de modo que, no contexto atual, o acesso da população às notícias através das redes sociais é bem mais intenso. 

O manual recomenda:

  1. Não publicar fotografias do falecido ou cartas suicidas.
  2. Não informar detalhes específicos do método utilizado
  3. Não fornecer explicações simplistas.
  4. Não glorificar o suicídio ou fazer sensacionalismo sobre o caso.
  5. Não usar estereótipos religiosos ou culturais.
  6. Não atribuir culpas.

O portal que noticiou a morte do ator descumpriu o item 1 e, consequentemente, o item 3. Além disso, o sensacionalismo ficou evidente, ou seja, descumpriu o item 4. 

Segundo a psicologia, são condições comuns no comportamento suicida a desesperança (falta de perspectivas) e a ambivalência (desejos simultâneos de viver e de morrer). Esses sentimentos impactam o discurso da última mensagem. Quando a carta suicida é publicada, os inúmeros leitores acabam produzindo sentido a partir de um discurso tomado por essas condições. Como consequência, será inevitável deduzir uma causa simplista para o suicídio, por exemplo: “foi porque perdeu o emprego”, “foi porque terminou o relacionamento” etc. Nada mais equivocado, pois o suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial. 

Por fim, vale lembrar que as pessoas se identificam com as histórias umas das outras e o risco de uma pessoa vulnerável se identificar com as palavras de uma carta suicida é relevante. Vale a pena correr o risco?

Devido a tudo isso, a pergunta do início deste texto se transforma na resposta: não se deve divulgar cartas suicidas.

 

Alex Sampaio Nunes

Pós-graduando em prevenção e posvenção do suicídio

Autor do livro “Ressuscito na cidade suicida”

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