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Nossas redes
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Inevitavelmente preto, insistentemente intelectual, por Diego Santos

Arte de Harmonia Rosales

Ser preto já é difícil no Brasil, sem meio termo, quem se dispor a enxergar, vai enxergar,  daí uns doido insistente como eu ainda inventa de estreitar mais ainda o caminho da “paz” buscando formação intelectual. Sim, porque não é entendendo a raiz dos problemas que querem te imobilizar psicologicamente, socialmente, economicamente – e quase sempre imobilizam – que tu vai conseguir alcançar iluminação interior e toda essa vibe de elevação.

Ao entrar numa universidade/faculdade, teu primeiro trampo é conseguir separar ao máximo o que te aflige pessoalmente do que tu produz filosófico-cientificamente, porque a galera que tá habituada a tá ali, geralmente de classe média branca, não vai achar confortável tu dizendo que do jeito que tá não é legal, que precisamo mudar, transformar, revolucionar as coisas etc.

É como disse o poeta BK, na música Movimento, “eles gostam quando preto dança, grita, chora. Eles temem quando um preto pensa”. E né exagero, não, firma! Ou como diz a playboyzada, “mimimi”. É muita treta tu ter que lidar com os problemas estruturais de uma sociedade dividida em classes e/ou raças, que te atravessam a todo momento, e ainda ter que fazer ouvido de mercador e vista grossa pra essas parada.

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A real é que o texto aqui não é atacando necessariamente sujeitos, porque quando digo de playboy, tô me referindo ao sistema socioeconômico em que vivemos, que divide a gente em classes, e ainda mais diante de um abismo social profundo, como é o caso do capitalismo dependente brasileiro, quintal de grandes potências político-econômicas como os EUA. Quando escrevo sobre branques, não é sobre tua vizinha ou teu colega de trabalho literalmente, é sobre branquitude: todo um sistema sociocultural pautado em elevar o que é dos europeu e sua descendência e diminuir o que vem de África, de Ásia, dos povos originários das américas, as vezes fazendo até com que pretes reproduzam essa lógica, tentando se pintar/descolorir em tudo que fazem (educação, arte, política…).

Tipo como disse o irmão Martinicano Frantz Fanon:

Não é possível subjugar homens sem logicamente os inferiorizar de um lado a outro. E o racismo não é mais do que a explicação emocional, afetiva, algumas vezes intelectual, desta interiorização (FANON, 1956,  p. 9).

Namoral, os ambientes mais classistas, mais “embranquecidos” são verdadeiras máquinas de exclusão, e na universidade não é diferente. Teu jeito de andar, teu jeito de se vestir, teu jeito de lidar com os dilemas (ESPECIALMENTE ESTE), teu bom desempenho (???) vão causar desconforto na galera. Isso nem é uma denúncia pelo viés predominantemente moral, saca? Não tamo aqui apontando quem é bonzão ou quem é mauzão, é mais pelo viés político-econômico mesmo. Calcula comigo… A galera tem condições financeiras pra ter frequentado melhores colégios, museus, cursinhos de línguas, cursinhos de artes de todo tipo, viagens e todas essas paradas aí, tu acha que cai do céu neles a conclusão de que a gente age de tal forma porque nossa escola foi em maior parte a rua? – que apesar de não ter custado dinheiro como as escolas diles, foi uma parada cara, por vezes custando a sanidade de um mano aqui, a integridade de uma mana acolá, a vida de um truta de lá, a liberdade de uma mina daqui.

Aí são aquelas, tem um pessoal que entra na onda diles mais facilmente, sem pôr em jogo o que tá por trás desse desconforto constante que a gente sente, porque é mais fácil de sobreviver, como apontou o mano Clóvis:

A identidade e a consciência étnicas são, assim, penosamente escamoteadas pela grande maioria dos brasileiros ao se auto-analisarem, procurando sempre elementos de identificação com os símbolos étnicos da camada branca dominante (MOURA, 1988, p. 62).

Nem julgo! Assumir a banca de preto “agressivo”, como disse também Clóvis Moura (1994), é dar a cara a tapa – como tô fazendo aqui, obviamente – e sabendo que tu vai ser compreendido por uma parcela, certamente mais por quem passa pelo que tu passa – mas não só -, e por outres, só nada. Só resta lançar esse alerta e quem sabe alcançar umas mentes, de preferência de quem experimenta o gosto amargo disso que tô explanando aqui, pra relembrar que não tamo só e que, não de hoje, tem uma massa se movimentando pra contornar essa doidera. Tmj!

REFERENCIAL TEÓRICO:

FANON, Frantz. Racismo e Cultura. REVISTA CONVERGÊNCIA CRÍTICA. Dossiê: Questão ambiental na atualidade – n. 13, 2018.

MOURA, Clóvis. A Dialética Radical do Brasil Negro – São Paulo (SP): Editora Anita.  Ed. 1994.

MOURA, Clóvis. Sociologia do Negro Brasileiro – São Paulo (SP): Ática S.A. Ed. 1988.

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