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Nossas redes
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Chapada do Corisco, por João Wilker

Foto: Caio Negreiros

O Brasil do sul pra cima, e os outros países chamados tropicais, são providos de uma característica curiosa da natureza, que fica jogada de lado com a noção das quatro estações, que possuem número bem mais bonito e balanceado, além de cada uma já possuir simbolismo e função poética importadas da Europa. “Seria uma pena ter que repensar tudo em volta dessa grande característica.”… Como fui pouco ao resto do país, me relego a dizer do meu nordeste: Existem aqui duas estações, a Chuvosa e a Seca. 

 

Não suprindo a necessidade de poesia, o povo chama a pior parte da seca de b-r-o bró, que se caracteriza menos como uma estação por si, e mais como escárnio do sol contra a gente, onde ele se divide e segue cada um. Mas não é sobre isso esse texto.

Quando chove na Chapada do Corisco, região banhada pelo Parnaíba (a lenda, o rio nem tanto), chove com uma fúria descarregada pelo céu contra o chão, e do chão contra o céu, como se estivesse saindo do povo todo aquele ódio acumulado do b-r-o bró, e do céu toda a positividade da chuva, e se encontram no ponto médio onde batem as estacas de deus e um clarão de luz engole a cena. 

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Se repete toda noite que chove. Que tempesteia. Dá no cidadão o medo de que aquele Velho Monge, que corre ali deitado sobre a mata ciliar desgastada da nossa divisa com Timon, se levantar, atravessar a avenida maranhão e entrar cidade adentro como fez no século passado diversas vezes. Batem as estacas de Deus com uma força tremenda contra a pobre capital do Piauí, a primeira cidade planejada do Brasil, que ainda assim se surpreende com as suas chuvas. Isso tudo, desse texto, é para suprir uma necessidade de poesia. E se querem uma divisão tetrapartida, vejam: temos a Seca, o B-r-o bró, a chuva e a tempestade. Agradeça depois, porque essa não estará nos livros didáticos.

 

Em outros lugares do país, se diz que a chuva castiga os tetos, que o dia está feio para chover, e se marcam coisas para depois da chuva, em função desta não atrapalhar os planos. Se em Teresina houvesse o luxo de chuva com a hora marcada, se transformariam os horários todos, e seria sempre no mesmo horário do café. Quem sabe, se fosse uma garoa consistente, teríamos um nominho para isso, e ainda nos orgulharíamos da água não ser preta. Seria raivosa, mas não preta. 

 

Deixo esse texto sem fim. Mas o deixo com um poema que escrevi em dia de corisco, fúria, no qual estava enfurnado no setor de direito da UFPI, antes da aula:

 

Chuva na Universidade

 

vento balança os bambuzais

cinza recobre toda a face

a proteção dos dias infernais

luta contra a tempestade

de encontro ao chão repentino

molha o rosto do nordestino 

que se admira do embate

 

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