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A Questão do Patrimônio em Teresina – Parte I, por Jasmine Malta

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Em seu aniversário de 150 anos nossa cidade ganhou um importante presente, talvez até o melhor de todos (dependendo do ângulo de visão do analista – progressista a qualquer custo, ou preservador patrimonialista, ou cidadão consciente, ou morador descomprometido – apenas para entendermos a situação à época): a destruição das carnaúbas centenárias da Av. Maranhão. Muitas questões foram levantadas e o debate chegou a ser acalorado, inclusive com uma notável comoção popular.

Contudo, essa antiga paisagem existe hoje apenas nas últimas comemorações do mesmo aniversário da cidade, através de fotos em preto e branco, já seculares, que mostram uma avenida com o cais das lavadeiras, a antiga Usina, os portões de madeira, e a famosa Prainha; e circulam em profusão pelas redes sociais, geralmente acompanhadas por comentários saudosistas. Para que a “Ponte do Meio” fosse finalizada nesses últimos anos, a madrugada serviu como cenário para a retirada das árvores, inclusive outras carnaúbas, da ligação entre a Av. Frei Serafim e a Av. João XXIII. Um “passeio” em jardim de concreto oferece abrigo e conforto à população que caminha pelo acesso, principalmente no horário do meio-dia.

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Uma nova intervenção na já muito desfigurada Av. Frei Serafim está próxima, e certamente será executada na surdina, em nome de uma urbanização que desrespeita a memória e a identidade de nossa capital. Basta observarmos o quanto já foram alteradas as fachadas tombadas do casario que ladeia essa importante e simbólica artéria da cidade. Na última reforma as fontes desapareceram para evitar o acúmulo de água e a proliferação das larvas do mosquito da dengue, os canteiros que estão plantados não são cuidados da maneira devida, e as plantas não desenvolvem o microclima planejado. Mas mesmo assim é incrível como as diversas tribos urbanas, os grupos de jovens e de atletas utilizam esse espaço como local de encontros, de lazer e expressão cultural durante a noite, e mais ainda nos finais de semana.

A preservação patrimonial é um assunto delicado no mundo inteiro, não é um tema exclusivo dos piauienses. Fortaleza sempre é citada e criticada como uma “cidade sem memória” por conta do desvairado avanço das edificações e da modernização em seu traçado urbano. A exploração comercial à beira-mar fez irreparáveis estragos, inclusive na ventilação e nos índices de poluição do mar. O tombamento pela UNESCO do Centro Histórico de São Luís não impede o desabamento de casarões seculares e o abandono de muitos edifícios. Paris e Londres vivem o mesmo dilema, mas em um patamar bem mais amplo; o que elas preservam conta a história não apenas de seus moradores, ou de seus países, mas de um Continente.

Teresina possui poucos imóveis de fato tombados e protegidos, alguns ficaram apenas como inventariados. O ato de proteção patrimonial não pode e nem deve ficar apenas à cargo do poder público. A própria população deve mudar seu modo de ver a cidade em que habita. Para isso, faz-se necessária uma Educação Patrimonial desde as primeiras séries, para que o cidadão conheça de fato a história de sua cidade, a sua origem, as edificações simbólicas, a importância de cada espaço nessa paisagem coletiva. Essa responsabilidade precisa ser compartilhada. A partir do momento em que a Educação Patrimonial passa a ser base do conhecimento e formação do cidadão, a cidade será preservada de uma outra maneira. A especulação imobiliária, o progresso a qualquer forma (e hora), os interesses individuais e os pautados na pequenez política; poderão ser enfrentados com maior conhecimento e respaldo.

Para exemplificar é preciso lembrar como foi significativa a “Ocupação Viva Madalena” e os seus desdobramentos: Pela primeira vez a destruição de um patrimônio edificado foi punida de verdade! Uma vitória para nossa cidade, para o Ministério Público e para as entidades engajadas, como a Ordem dos Advogados do Brasil-OAB, através de sua Comissão de Patrimônio, e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo-CAU/Piauí. Os jovens estudantes de Arquitetura que organizaram o movimento fizeram muito mais do que um ato político, eles fizeram a diferença e geraram uma consciência coletiva ímpar. Deve-se também à Educação Patrimonial que tiveram, geradora de uma consciência urbanística muito além da que já possuíam até então.

A preservação do patrimônio histórico permite ao homem uma possibilidade de leitura do passado ao qual ele pertence e é reflexo atual, e de uma projeção para o futuro do qual irá fazer parte. É um notável elemento constituinte para o “ser cidadão” o respeito à memória, à história e à cultura locais. Afinal, o que desejamos para o futuro de nossa cidade ?

Jasmine Ribeiro Malta – Designer de Interiores, Professora, Artista Visual.

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Ver comentários (2) Ver comentários (2)
  1. Como seria bom se o poder público soubesse aproveitar os belos marcos que a cidade possui para dar lugar a órgãos e secretarias, de modo que o cidadão poderia apreciar e conhecer mais a História de nossa cidade durante seu cotidiano.
    Na cidade de Savannah, estado da Geórgia, nos Estados Unidos, a faculdade de arte SCAD utiliza prédios tombados da cidade como salas de aula e escritórios. Em alguns, grandes intervenções modernas no interior não prejudicam as belas fachadas originais, pois garantem segurança, conforto e praticidade aos prédios, sem esnobar a História por trás deles. A gama de edifícios espalhados pela cidade se conecta através de uma rota de ônibus particular, e dá um lindo charme à universidade, que acaba por influenciar seus alunos a valorizarem o estudo do patrimônio e os coloca no mercado com uma visão diferente da maioria.
    Alternativas todos temos, para tudo o tempo inteiro, e sentar e reclamar não vai ajudar. O bom exemplo dos garotos e garotas da ocupação é de cair lágrima, e espero vê-lo se repetir.
    Mais amor ao passado que aqui nos trouxe, menos ganância pelo lucro imediato.
    Mais beleza ao andar nas ruas de dia e de noite, menos delitos na madrugada.

  2. Excelente texto para reflexão sobre a preservação da memória e identidade do patrimônio cultural da cidade amada: Tetesina. Parabéns, Jasmine Malta!

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